Missão Vocacional – Crônica da Casa Jesus Sacerdote de Barretos

   

          Nesta edição de nossa revista, trazemos na missão vocacional, um pouco do trabalho que desenvolvemos na nossa Casa de Barretos – São Paulo, principalmente neste tempo de pandemia:

 

          Uma premissa necessária

          Quando telefonamos, neste período, a pessoas amigas ou simplesmente conhecidas, a primeira pergunta é sempre: “Como vai aí com o corona vírus?” Todos conhecem, todos se interessam por este “senhor” misterioso e acompanham com medo sua incansável atividade.

          Penso que, também, pode ser a primeira pergunta, para quem dá uma olhada com curiosidade  nestas páginas…. Apesar de que todos esperamos deixar de lado esta epidemia, uma vez por todas.

 

          O começo foi quase contemporâneo.

          Os amigos e conhecidos conhecem a pequena comunidade da Casa de Jesus Sacerdote de Barretos. Somos dois Padres, aos quais se uniu, neste ano, Michael um jovem noviço haitiano, que pede de entrar na nossa Congregação. A nós é confiada a animação pastoral da paróquia e do Santuário de Nossa Senhora do Rosário.

          Missão específica da Casa, porém, é acolher todo ano um pequeno núcleo de Padres, que sentem a necessidade de dar uma parada no seu ministério, não fácil e muitas vezes desgastante física e espiritualmente, para viver um ano sabático de descanso e de recarga. Condição necessária para retomar com mais fôlego sua missão.

          Também neste ano, no começo de março, acolhemos com fraterna alegria sete Padres de várias partes do Brasil. Na proposta de vida e de trabalho apresentada e discutida juntos, não estava, porém, previsto o corona vírus. Ele veio ainda no começo, hospede não desejado, e logo apresentou suas exigências, suas pretensões e ameaças. Tivemos que acolhê-lo, dispostos a obedecer, pedindo que não nos disturbasse mais do que tanto…

          E, até agora, se comportou. Ninguém teve necessidade de brigar para ocupar um dos poucos leitos a disposição nas UTI de Barretos.

          O nosso ano sabático, que já se configurava como experiência de retiro das atividades que normalmente preocupam e formam o ideal de vida de um padre, transformou-se forçosamente em clausura…

 

          Construímos comunidade

        Os incômodos podem tornar-se novas oportunidades. Duas preocupações se apresentam normalmente numa situação de retiro como esta: a convivência e o trabalho. Nós naturalmente colocamos logo uma terceira, a oração: dimensão importante da nossa realidade cristã e sacerdotal.

          Antes de tudo a convivência. Formar comunidade com pessoas adultas, que antes nem se conheciam; de lugares, temperamentos e experiências de vida diferentes… não é fácil. O Padre, além de tudo é formado para ser um líder na comunidade, construir uma entre líderes pode ser problema…

          Diria que conseguimos com relativa facilidade. Decidimos desde o começo aceitar-nos como somos, com todas as riquezas humanas e espirituais de cada um e que sempre são maiores do que as normalmente pensamos.

          Evidentemente, aceitando os limites e os defeitos que sempre nos acompanham. Para nos reconhecer como irmãos e construir amizade é só nos aceitar como somos. Para nós Padres, ajuda-nos muito pensar no mistério de amor e de amizade que Jesus oferece e quer construamos com Ele e entre nós mesmos.

 

          A casa favoreceu nossa convivência

          Nosso ambiente de vida não é muito grande, mas é claramente mais cómodo do que de muitos de nossos irmãos pobres podem ter à disposição: uma capela, um jardim e ,sobretudo, diria um alpendre para contemplar o jardim e resto da cidade no horizonte. O mesmo pode tornar-se, segundo as necessidades: espaço de encontros, de estudo, de jogos de mesa. O edifício central, além dos quartos particulares, oferece refeitório-sala de TV, salas de diálogo, salinha de encontro ou de diálogo com a equipe formativa.

          Dentro destes espaços vivemos com suficiente comodidade este tempo de pandemia. Sair de casa só pelas compras e outras necessidades essenciais, com todo cuidado pra não deixar entrar o vírus, usando máscara, gel e sem nenhum abraço…

 

          Nossa primária preocupação

          Aproveitamos deste clima de retiro para dar mais tempo e atenção aos nossos momentos de oração, pessoais e comunitários: a Santa Missa quotidiana, os vários momentos de celebração do Oficio Divino.

          Com muita saudade das nossas comunidades paroquiais, celebramos solenemente a Semana Santa: a Quinta Feira santa Missa do lava-pés, a Vigília e a festa da Páscoa. No mês de maio organizamos terços solenes com procissões. Procuramos destacar a semana do Cenáculo e o dia de Pentecostes em comunhão com a Igreja toda, tudo isso dentro do contexto da comunidade interna e respeitando as regras de isolamento.

          As mesmas solenidades foram, pela nossa pequena comunidade, ocasião de confraternização ao redor da mesa, que, a sua vez, se orgulhava de oferecer e com abundância o melhor do que tinha.

 

          Os momentos formativos

 

         A falta de compromissos fora de casa favoreceu, também, os momentos formativos típicos da nossa experiência sabática. A equipe multidisciplinar da casa de Barretos, depois de uma primeira fase de mais limitação, e tomando todos os cuidados, mostrou-se disponível para os encontros semanais de grupo e particulares.

 

          Os meios de comunicação

          Os meios de comunicação nos permitem viver com interesse nossos relacionamentos com familiares e amigos, com o nosso Bispo e nosso Presbitério. Não podemos  deixar de acompanhar com preocupado interesse e oferecer toda nossa ajuda espiritual às situações de tantos irmãos, do Brasil e do mundo, que sofrem pelos tantos problemas sociais e políticos e que vivem e lutam nesta situação de epidemia.

          Mas, olhamos para frente sem condenar o momento de dificuldade e de desafios que o Senhor nos apresenta. Porém, esperamos e rezamos para que esta situação possa ser superada, sem estragar demais a nossa já precária situação, sobretudo a realidade tão difícil dos mais pobres.

          Como pequena Família Religiosa, sentimos saudade dos nossos encontros intercomunitários mensais, momentos preciosos e desejados de confraternização e de ajuda espiritual. Também entre nós, procuramos, comunicar frequentemente para sentirmos e caminharmos em comunhão. Não perdemos contato com nossos Irmãos e Superiores da Itália. O nosso Superior Geral, Pe. Carlos é especialista em comunicação e consegue tornar-se presente na nossa vida com suas frequentes mensagens, marcadas por fraterna amizade.

 

          E o Santuário-Paróquia do Rosário?

 

          Penso que a comunidade também … sofra por esta situação difícil e inesperada. Acostumado a ver uma boa participação de fiéis, sobretudo nas grandes celebrações que marcavam os meses do primeiro semestre, teve que aceitar de permanecer quase sempre vazia, sem luzes e sem cantos…

          Quase sempre, porém, porque Pe. Costante com um grupo pequeno, mas ativo e tecnicamente bem preparado, conseguiu que nossa paróquia sentisse e colocasse nosso Santuário como ponto de referência e de animação da nossa vida cristã.

          Todas as noites os sinos tocavam para avisar da Missa celebrada em comunhão espiritual com todas as famílias que se sentiam , mais que nunca, pequenas “igrejas domésticas”. As necessidades, os anseios, as preocupações de todos eram colocados sobre o mesmo altar.

          O nosso Santuário assumia, pela dedicada inventiva de pessoas generosas, a tarefa de avisar dos mistérios que ao longo das semanas e dos meses, a Igreja todas celebrava: a Semana Santa, a Ressurreição do Senhor, as festas de Nossa Senhora com a tradicional coroação no final do seu mês, a Pentecostes.

          O Pároco, com generosa disponibilidade, desafiava o corona vírus visitando nas casas pessoas doentes ou necessitadas de conforto espiritual.

          A Família paroquial não se dispersou, mas procurou fortalecer os laços espirituais que a unem ao redor do seu Altar e do seu Santuário. Prontos a retomar os nossos encontros festivos como, também, nossas atividades espirituais e sociais, quando o Senhor nos dará, finalmente, o seu sinal.

 

 

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Padre Angelo Fornari, CJS.
Superior da casa de Barretos – SP, e responsável pelo trabalho específico com os sacerdotes. Psicopedagogo e Professor Emérito da Faculdade João

 

 

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