Ao mesmo tempo, o exemplo de sacerdotes santos que a graça de Deus me possibilitou conviver, a santidade do sacerdote que me batizou, padre André Bortolameotti, a sabedoria de Padre Mário Relvolti, o carisma de Padre Carlos Bozza despertavam em mim o desejo de abraçar o sacerdócio e, conjuntamente, também me apaixonar pelo carisma sacerdotal da Congregação a qual eles pertenciam.
Quando falamos de vocação, nos remetemos a um chamado em vivenciar uma história de amor. Um amor que transcende uma lógica simplesmente humana para adentrar em um sonho puramente divino. O amor não desiste de chamar, é paciente e perseverante; assim acontece com o chamado de Deus na vida dos jovens que possuem a coragem de abrir seus corações a um sonho gestado por um amor maior e apresentado às suas realidades para ser abraçado e vivido. Foi assim que a benevolência de Deus, na doçura de sua cordialidade, se apresentou gradualmente em minha vida até me conquistar por inteiro e, finalmente, eu dar o meu sim na liberdade e poder reconhecer: “Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo” (Jeremias 20, 7).
A história de minha vocação se inicia em paralelo aos primórdios de minha vida. Sutilmente a voz de Deus foi se apresentando em momentos singulares de minha trajetória, como pequenas peças que aos poucos foram se juntando, até eu poder compreender o belíssimo quadro que se formava em minha frente como um presente de um artista único, acompanhado de dois questionamentos: Que tal fazer a diferença? Que tal colocar em prática esse projeto de vida?
Desde os idílicos tempos de minha infância, sempre nutri uma admiração muito grande pela Santa Igreja Romana, pelas suas cerimônias, a estrutura de sua liturgia, o encanto de seus templos e a mensagem de seu magistério. Havia algo de especial por detrás de tudo isso; não era apenas fruto de uma sofisticável estética humana personificada nas formas visíveis que uma instituição milenar poderia assumir e se apresentar aos homens, mas sim uma essência divina que ali me atraia e me fazia sentir parte integrante de algo que ia muito além do perceptível aos sentidos, ou compreensível pela razão humana. De alguma forma, a Igreja me fascinava em todos os seus significados e por ela eu fomentava um amor ao ponto de nela ver meu complemento, como um amante sente por outra pessoa na qual o coração permitiu-se enamorar.
Permeia-me ainda as nostálgicas lembranças desse período: a alegria de estar presente na Santa Missa, os encontros de catequese, ou nos fins de semana em que me reunia com os amigos de rua para “brincar de missa” com os antigos folhetos ilustrados que eu guardava das celebrações eucarísticas dominicais na paróquia. Ao mesmo tempo, o exemplo de sacerdotes santos que a graça de Deus me possibilitou conviver, impulsionava ainda mais o meu amor por Cristo e por sua Esposa, a Santa Igreja: a santidade do sacerdote que me batizou, padre André Bortolameotti, a sabedoria de Padre Mário Rilvolti, o carisma de Padre Carlos Bozza, padres estes que cuidavam de minha comunidade de origem naquele período, despertavam em mim o desejo de abraçar o sacerdócio e, conjuntamente, também me apaixonar pelo carisma sacerdotal da Congregação a qual eles pertenciam.
O tempo foi passando e na adolescência comecei a participar dos encontros vocacionais na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Barretos, e sentia que o Senhor renovava o chamado a aderir ao seu projeto de vida, mas nessa época a voz natural do medo e da incerteza queriam fazer concorrência e obscureciam o meu discernimento. Ao mesmo tempo, era também meu desejo cursar História e me tornar professor, outra belíssima vocação que Deus me presenteou e da qual pude colher preciosos frutos nos anos vindouros. Prestei vestibular, cursei minha graduação em História na cidade de Uberlândia e, durante esse curso ardia ainda mais meu coração pela história da Igreja. Sentia que Deus me falava e renovava seu chamado a dedicar minha vida por uma instituição formada por homens corajosos, mas nascida de uma doação vivida.
No término da graduação, novamente esse chamado veio até mim, junto a ele apresentou a minha corriqueira resistência, acompanhada do meu desejo particular de atuar profissionalmente em minha área, fazendo disso também parte integrante do meu processo de discernimento vocacional. Depois de dois anos lecionando, também me apaixonei com o contato com as pessoas, de sua sede de conhecimento, da necessidade de ajudá-las naquilo que eu poderia para muito além do ofício, mas como um dever humano de servir. Ao término dessa fase, dei início ao meu mestrado acadêmico e diante do seu encerramento dois anos depois, novamente o Senhor serenamente veio me chamar. Nesse momento, finalmente estava convencido de que, em momentos capitais de minha história, o senhor me chamava e me queria junto dele. De algum modo eu já havia realizado os meus sonhos, agora chegara a hora de realizar os sonhos de Deus para minha vida.
Finalmente em 2018 dei o meu sim e entrei como aspirante da Congregação de Jesus Sacerdote, na casa de formação de Marília. Um novo horizonte se abria à minha frente diante dessa oportunidade de vivenciar o chamado de Deus por meio de um carisma tão necessário e urgente a Igreja de nossos tempos: ser um padre para os padres e dedicar minha vida, minhas alegrias e sofrimentos para a santificação e cuidados dos sacerdotes. Muitos são os desafios e as provações que são apresentadas no percurso do discipulado de Cristo, porém, com toda certeza, muito mais valiosas são as alegrias e riquezas que venho colhendo do meu sim ao Senhor. Quando me perguntam o porquê de deixar o mundo para ser padre, respondo simplesmente que as coisas temporais já não me bastavam, por isso preferi a eternidade imperecível com Cristo, preferi coadunar meu coração com o seu insofismável e Sagrado Coração Sacerdotal.
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Kleber Sienna.
Aspirante na Congregação de Jesus Sacerdote, Formado pela Universidade Federal de Uberlândia no curso de História (bacharelado e licenciatura), e mestrado em História, pela mesma instituição de ensino, se especializando em história do imaginário naval.