Revista Voz Amiga | Volume 31 | Nº 3 | Ano 2021
Todos somos chamados a viver plenamente a vocação. Entretanto, algumas vocações se destacam por serem as chamadas vocações específicas. Dentre elas a vocação ao matrimônio, que está profundamente ligada ao sacramento do matrimônio. Cada vocação em sua particularidade, respondem a um chamado que corresponde a missão daquele ou daqueles que foram chamados.
Vemos no sacramento do matrimônio, a ação direta de Deus que continua a obra da Criação. Ao criar o homem e a mulher sua imagem e semelhança (Cf. Gn 1) Deus, quis que a fecundidade existente entre eles, não fosse apenas uma unidade carnal, mas, que a força do amor existente entre ambos perpetuasse, e os frutos existentes expressassem o amor de Deus na Economia da Salvação. “A vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador”[1].
Desta forma, o Matrimônio além de configurar o amor de Deus na união entre o homem e a mulher, personifica a sua presença entre a Criação, ratificando desta forma a aliança feita no Sinai, onde o senhor se manifestou a Moises por meio da Sarça, que não se extingue ( Cf. Ex 3, 3), na encarnação do Verbo no seio de Maria ( Cf. Lc1, 39-56). Assim a presença do Senhor além de perpetuar-se na criação, mostra que por meio de sua ação, a relação entre ambos se torna indissolúvel.
Podemos ver nesta mesma ótica a relação de Deus com a Igreja, Corpo Místico de Cristo, que mostra “a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja”[2]. Um Deus que por meio do seu amor, faz com que todos vivam na plena intenção a vocação, e que sejam configurados a Ele por meio do Batismo. Assim o Sacramento do Matrimônio, vivido de acordo com os planos do Senhor deve resultar, em uma vida de doação e serviço para o Reino que o Próprio Deus instaurou desde a Criação e tem seu ponto culminante por meio de Jesus Cristo, enviado do Pai para nos redimir , que morreu e ressuscitou por amor por nós.
O Matrimonio quando vivido nos preceitos Cristãos, deve ser a base da própria vivência matrimonial, onde os conjugues se respeitam, superam dificuldades e vivem um para o outro tendo como base os valores inspirados no próprio Cristo. Que ama, perdoa, acolhe, serve e confia a todos uma missão específica. Assim deve ser resposta de toda vocação que é chamada a viver em prol do reino.
Neste caso podemos aludir que o matrimonio é uma referência para todas as vocações, sejam elas leigas, consagradas e sacerdotais. No que se refere as vocações leigas, vemos que a Igreja na sua maioria é formada por pessoas que, buscando viver os preceitos cristãos em suas vidas ordinárias podem ser um sinal vivo e eficaz da presença de Deus, em um mundo conturbado e de valores que investem contra os princípios Cristãos.
Os leigos são chamados a ser sal e luz no mundo, (Cf. Mt 5,13), exalando a amor de Cristo no mundo, cada qual com sua missão específica, e em comunhão com o clero. “Vós sois o Corpo de Cristo, e cada um de vós é um dos seus membros” (Cf.1Cor 12,27), templos vivos de Espírito Santo.
Os fiéis, e mais propriamente os leigos, encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja; para eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, eles, e sobretudo eles, devem ter uma consciência, cada vez mais clara, não só de pertencerem à Igreja, mas de ser a Igreja, isto é, a comunidade dos fiéis sobre a terra sob a guia do Chefe comum, o Papa, e dos Bispos em comunhão com ele. Eles são a Igreja… »[3]
O leigo na sua missão tem por compromisso de batizado, ser o protagonista na sua vida de fé, inspirado nos santos, nas sagradas escrituras, nos ensinamentos da Igreja. Realiza em sua existência e vocação o sacerdócio régio de Cristo, naquilo que lhe é próprio em qualquer estado ou condição de vida.
Destarte, o Leigo precisa do conhecimento necessário da Doutrina da Igreja, para compreender a hierarquia existente na sua estrutura, que foi estabelecida pelo próprio Cristo, e não a comparar a outros tipos de governo. Pois a “Igreja está muito além desses paradigmas sociais, porque ela não nasceu do povo, mas de Deus, de Jesus Cristo, ela veio do céu e não da terra”[4]. Assim como no sacramento do matrimônio, vemos que o próprio Cristo se faz presente neste ambiente, onde pessoas com inúmeros ofícios sociais se predispõe a viver no mundo tendo como regra de vida e espiritualidade Cristã Católica.
Outra vocação que se destaca na sociedade atual, é o chamado a ser consagrado. Onde pessoas leigas inseridas em institutos congregações e ordens optam por viverem os votos evangélicos.
…pela prática dos conselhos evangélicos procuraram seguir Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de perto, consagrando, cada um a seu modo, a própria vida a Deus. Muitos deles, movidos pelo Espírito Santo, levaram vida solitária, ou fundaram famílias religiosas, que depois a Igreja de boa vontade acolheu e aprovou com a sua autoridade.[5]
Os consagrados buscam no pleno exercício de sua missão, viver um estilo de vida próprio a cada grupo religioso, seja feminino ou masculino. Cada um a seu modo consagra-se perpetuamente a Cristo. Baseada nos princípios cristãos a consagração precisa estar intimamente ligada a Cristo, no seu carisma específico.
Assim como no matrimônio a consagração religiosa, deve ser um sinal de esperança e paz no mundo. A relação com Cristo deve ser refletida no amor ao próximo, cultivando uma vida no Cristo, por meio dos votos de pobreza, castidade e obediência. “Por isso, os membros dos Institutos cultivem com contínuo esforço o espírito de oração e a mesma oração, haurindo-a das genuínas fontes da espiritualidade cristã”[6]
Nesta perspectiva, de vida oração e vida comum os que são chamados ao sacerdócio ordenado (Sacramento da Ordem), Bispos, padres e diáconos devem buscar uma configuração plena a Cisto. Estes por meio de seus ofícios devem anunciar o Cristo e propagar o Reino de Deus, por meio dos sacramentos ministrados, da ação evangelizadora e pastoral da Igreja, e em especial por meio de sua própria vida e na fidelidade a missão que foi confiada a cada um.
É no seio da família, e na maioria das vezes por meio do sacramento do matrimônio, que a vida é gerada, e no seio da família as vocações têm sua origem, a união entre o homem e a mulher não apenas evidencia a união entre dois corpos, mas, ratifica a aliança entre Deus e a humanidade em gesto de amor e doação.
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Frei Fábio Brandão, OSA.
Religioso da Ordem de Santo Agostinho. Estudante do 8º semestre do curso de teologia do UNISAL.
Referência
BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2011.
CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
Constituição Dogmática Lumen Gentium Sobre a Igreja. Disponivel em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html Acesso em: 28abr, 2021.
João Paulo II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici. Sobre vocação e missão dos leigos na igreja e no mundo. Disponivel em: i/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_30121988_christifideles-laici.html. Ascesso: 28 abr, 2021.
Paulo VI. Decreto Perfectae Caritatis Sobre A Conveniente Renovação Da Vida Religiosa. Disponivel: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651028_perfectae-caritatis_po.html. Acesso em: 28 abr, 2021
AQUINO, Felipe. Formação. A missão dos leigos na Igreja. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/missao-dos-leigos-na-igreja/?fb_comment_id=1580565775317921_1984134954960999. Acesso em: 28 abr, 2021.
[1] CIgC., n. 1603
[2] CIgC., n. 1617
[3] João Paulo II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici. n.09.
[4] AQUINO, Felipe. Formação. A missão dos leigos na Igreja.
[5] Paulo VI. Decreto Perfectae Caritatis Sobre A Conveniente Renovação Da Vida Religiosa. n.1.
[6] Paulo VI. Decreto Perfectae Caritatis Sobre A Conveniente Renovação Da Vida Religiosa. n.6.