Essa angústia me levou a meditar sobre o quadro que compunha meu altar doméstico. Em uma das reflexões, veio em minha mente a frase: “Que grande amor do pai, entregar de presente esse quadro ao filho com a imagem que provocou sua doação aos sacerdotes?
Dizer desse tempo singular que estamos vivendo, das dificuldades de adaptação e de convivências virtual numa partilha por meio da Revista Voz Amiga, não é uma tarefa fácil. Os motivos são vários, dentre eles temos: amigos e parentes que se foram para junto do Pai; distanciamento social e, porque não dizer, medo de que alguém chegue perto e mostre o rosto por completo. No entanto, posso afirmar, quando Deus permite que algo dessa forma aconteça conosco, sempre terá muitos ensinamentos. Nessa pandemia não está sendo diferente. Por ter a certeza do Amor por nós, fiquei a buscar o que poderia fazer e aprender de bom atendendo a vontade de Deus.
Bem, vou iniciar falando da pandemia mesmo. Estava ainda internada por conta da cirurgia na coluna, quando via na televisão a notícia de um surto de “gripe” na China e em seguida na Itália. Ainda sem dimensão do que se tratava, eu pensava que a China e a Itália estavam “muito longe”, assim, ao sair do hospital, fui para São Paulo e Marília me restabelecer, visitar amigos e familiares. Nesse período, a OMS anunciou a gravidade da situação, por isso, precisei voltar voando (literalmente) para Maceió, onde resido atualmente, para ficar perto da minha gata e da minha cachorrinha.
Meu local de residência era perfeito. Um apartamento na beira da praia em um bairro de pescadores. Decidi fazer um retiro com um profundo exame de consciência. A ideia pareceu, boa, não é mesmo? Hoje, concluo que foi ótima, mas reconheço que, quando Deus concordou comigo, bem… não foi tão legal assim, inclusive o local de residência. Quer saber por quê?
Primeiro, durante a oração e o exame de consciência profundo e verdadeiro mediado pela Canção Nova, disse com todo desejo do momento: “Senhor, mostre-me os meus pecados!”. Bem, Deus não nega um pedido desses. Estava próximo ao dia de Santa Madalena e, confesso, enxerguei-me com alguns dos sete demônios (sete pecados capitais) que se apoderaram dela. A luta foi grande para reconhecer, rejeitar, expulsar e converter-me.
Na caminhada da conversão, inicialmente, segui as orientações do Papa pedindo pelo fim da pandemia, buscando a prática da caridade, rogando a Deus que enviasse seu Santo Espírito a fim de aumentar minha fé e minha esperança. Para me unir ao Sumo Pontífice, continuei recorrendo à internet, como todos, e passei a acompanhar outros canais católicos de televisão, visto que estavam nos conclamando a nos mantermos unirmos em oração. Outra forma de união foi acompanhar diariamente as Laudes precedidas de adoração ao Santíssimo, mediadas pela Congregação de Jesus Sacerdote – comunidade de Marília – e a participação na missa e da oração do Santo Terço, à noite, com a comunidade de Osasco. A participação na missa, ora em Marília, ora em Osasco ou em Aparecida, passou a fazer parte de minha agenda diária também.
Essa aproximação com as comunidades me proporcionou uma alegria diferente que se completou com as reuniões virtuais do grupo de agregados, núcleo de Marília.
Durante a Semana Santa fomos convidados a preparar um altar em nossas casas. Na sua composição coloquei vários sacramentais e percebi que não tinha um crucifixo, mas, somente a cruz. Precisava da imagem de Jesus, por isso coloquei o quadro de Jesus no Horto, presente da Congregação e, em todos os momentos de oração, o contemplava. No meu sofrimento por estar sozinha, pensava nos padres que também moram sozinhos em pequenas casas paroquiais, nos fundos das igrejas e na impossibilidade de estar com suas comunidades. Eu também não podia e não posso estar com meus alunos, amigos e familiares pelo distanciamento social ou espacial.
Essa angústia me levou a meditar sobre o quadro que compunha meu altar doméstico. Em uma das reflexões, veio em minha mente a frase: “Que grande amor do pai, entregar esse quadro ao filho com a imagem que provocou sua doação aos sacerdotes?” Estranhou a palavra “pai” em letra minúscula? Não estranhe. A grafia está correta. Estava me referindo ao pai de Padre Mário Venturini.
O quadro presenteado pelo pai no dia de sua ordenação foi o mediador da inspiração para a criação da obra. Entendi que o presente do pai ao filho foi também um presente do pai ao Pai, uma Oferta verdadeira que levaria o filho a pensar em não se afastar do Filho. A partir desse momento, todos os dias, passei a ser provocada pelo meu “SIM” à Agregação e pela oferta, também diária, das minhas dores e angústias pela Santificação dos Sacerdotes.
O que me motivou a fazer a oferta? Por que me mantive unida ao Coração Sacerdotal de Jesus? Ainda me mantenho unida?
Esses questionamentos surgiram nas proximidades da celebração do Sagrado Coração de Jesus, data tão cara à Congregação e fez-me retomar a leitura das riscadas, marcadas páginas do livro “Espírito da Congregação de Jesus Sacerdote”. Fiz várias visitas ao texto, as minhas anotações, a minha entrada, estrada e caminhada. Reencontrei pessoas que amorosamente contribuíram com o projeto de Deus para minha vida. Padre Pio, meu mentor; Padre Primo, quem me fez o convite e orientou os primeiros passos; Padre Ângelo, para quem corri quando “descobri” a Congregação; Padre Mário Revolti, meu formador exclusivo; os seminaristas que trabalhei na preparação aos estudos.
Durante a leitura das minhas anotações e os parágrafos com as reflexões contidas no livro, busquei arduamente a história do quadro, mas não encontrei. Também, não encontrei a biografia de Pe. Mário Venturini (penso que fiz a doação ao fundador de uma comunidade de Aliança). Durante minha busca, nos sites da Congregação e outras páginas católicas, encontrei textos, filmes e referências à Congregação e ao fundador sempre seguido da leitura do Espírito.
Inicialmente, fazia uma leitura longa, depois percebi que o ideal é ler os parágrafos numerados. Essa estratégia de leitura me permite a reflexão mais profunda das palavras de Padre Mário Venturini e fazer a ligação com a minha vida e com minha vocação. Comecei a partilhar minhas leituras nos grupos de Agregados, porém parei a partilhas por conta da digitação, mas e principalmente porque compreendi que era um momento particular de imersão nos pensamentos do fundador.
Tenho dois propósitos para além da pandemia. Responder a pergunta que me inquietou, ou ao menos estudar sobre o presente do pai ao filho que se tornou presente para os padres, para nós; presente na vida dos padres e na nossa vida. Dar continuidade a meditação, se possível, todos os dias de um número/parágrafo do livro “Espírito da Congregação”, apenas um, e pensar sobre o que Deus fala comigo por meio do fundador. A escolha é aleatória. No texto de “hoje” refleti sobre a função do agregado junto aqueles de seu convívio, nesse tempo em que nossos ministros sagrados sofrem tantos ataques do mal.
nº 82 – Não só os sacerdotes, mas também aqueles que não o são, nas conversas e nos recreios falem sempre da dignidade, dos poderes e dos ministérios sacerdotais, para que aumente neles a estima do Sacerdote e deem glória a Deus, que se dignou comunicar esta graça aos homens, para o sumo bem da humanidade toda.
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Silvana Paulina de Souza.
Agregada da Congregação de Jesus Sacerdote (Maceió/AL).
Obrigado por esse testemunho, Deus abençoe