Maria e a Igreja hoje

Revista Voz Amiga | Volume 31 | Nº 3 | Ano 2021

 

 

 

Hoje é impensável falar da figura de Maria sem a sua relação com Jesus Cristo e a Igreja. Por isso, salientar uma dimensão antropológica, sublinhando o lado humano da Mãe de Jesus, mostrando-a como mulher livre e de fé, que cooperou de modo consciente e ativo no projeto de salvação de Deus, se faz cada vez mais imprescindível ressaltar.

O mistério que a pessoa de Maria contém é o próprio mistério do Verbo do Verbo encarnado. Não esqueçamos que é este mesmo Verbo (Palavra) que alimenta a piedade popular, que resplandece em Maria a vida teológica presente na piedade dos povos cristãos, especialmente dos pobres.

A figura de Maria, nos dias de hoje, torna-se um ponto de referência para uma cultura capaz de superar as barreiras que podem criar divisões. Portanto, no caminho desta cultura da fraternidade, o Espírito nos chama a acolher de novo o sinal de consolação e de esperança segura que tem o nome, o rosto e o coração de Maria, mulher, mãe, serva e discípula. Tudo isso, por ser ao mesmo tempo tão excelsa e tão simples; Ela consegue chegar a todos os corações.

Mas, há de se evidenciar uma realidade – é o choque entre a prática devocional e a Mariologia, onde uma percorre o campo da simplicidade e até chegando ao simplório, e a outra, que deseja iluminar tais devoções populares e particulares para bem se venerar a Mãe de Jesus através da Tradição, da Sagrada Escritura, do Magistério e da Liturgia. Estes choques não diminuem de forma nenhuma a grande dimensão que chega a figura de Maria na vida da Igreja, desde o mais simples aos que com grandes reflexões ajudam a clarear a fé.

No Documento de Aparecida n°266, os bispos afirmam que na Virgem Maria, a mais perfeita discípula do Senhor, acontece à máxima realização da existência cristã e apontam como fundamento a maternidade de Maria, aquela que viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos.  É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre nas pegadas de Maria.

– Maria é uma presença materna na família dos cristãos

Maria é a Mãe de Jesus, desde o Fiat da Encarnação pela ação do Espírito Santo, que a revestiu da sua graça. Uma relação única se estabelece entre Maria de Nazaré e Jesus de Nazaré. Essa relação única é o ponto de partida para refletirmos sobre o papel de Maria como mãe, na missão do Redentor. Pelo processo da evangelização, a Igreja gera sempre novos cristãos, processo este que consiste em “transformar a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade” (Evangelii Nuntiandi 18), é um verdadeiro renascimento. Neste parto, sempre renovado, Maria é nossa Mãe; Ela, gloriosa no céu, atua na terra, participando do projeto de seu filho Cristo Jesus, “cuidando com amor materno dos irmãos de seu filho, que ainda peregrinam.” (Lumen Gentium, 62).

“Maria, mãe, desperta o coração do filho adormecido em cada homem. Assim, nos leva a desenvolver a vida do batismo pela qual nos tornamos filhos. Ao mesmo tempo esse carisma materno faz crescer em nós a fraternidade e, assim, Maria faz com que a Igreja se sinta uma família” (Puebla 295).

Além de mãe, Maria é um ícone da discípula e serva que acolhe a missão da Igreja enquanto um chamado pessoal a serviço do Reino, se colocando a disposição para levar todo homem a abrir-se ao evangelho e a responder de forma obediente ao seu Filho Jesus; esta consciência está presente na vida de nossos povos hoje. Maria viveu seu discipulado, sem se limitar à pessoa de seu Filho, mas acolhia a todos os discípulos em comunhão fraterna.

Por fim, constatar esta relação entre Maria e Jesus, nos faz perceber que a Igreja vive uma relação semelhante, enquanto continuadora da missão de Jesus, participa deste mistério singular de maternidade. Os filhos gerados pela Igreja encontram em Maria um modelo, uma inspiração, uma segurança, uma mãe próxima que os ama e educa. Por isso, por Cristo, com Cristo e em Cristo estamos unidos hoje a sua mãe e nossa.

 

 

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Fábio Dias Menezes. 
Postulante da Congregação de Jesus Sacerdote e redator da Revista Voz Amiga.

 

 

 

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Segue-me. Vocação acertada é vida feliz!

qui nov 18 , 2021
Quero começar dizendo o que me impulsiona neste momento é a felicidade, e com ela lembro um dizer popular aqui no Brasil, que é “vocação acertada é vida feliz!”.  Na minha vida, vi meu sonho se realizar de acordo com a vontade de Deus! É preciso aprofundarmos o que Catecismo da Igreja Católica n. 27 nos diz: “o desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar.”

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